A exposição de arquitectura realizada em Cinfães em 1996 possuía o catálogo que referimos no artigo anterior e, conjuntamente um texto intitulado: "O drama da Arquitectura em Portugal" e dizia o seguinte:
O Drama da Arquitectura em Portugal
Serve tão pouco esta exposição para revelar um “certo querer fazer”, mas sim, essencialmente, mostrar o que será, porventura, o processo de nascimento e criação de uma obra de arquitectura.
O Drama da Arquitectura em Portugal
Serve tão pouco esta exposição para revelar um “certo querer fazer”, mas sim, essencialmente, mostrar o que será, porventura, o processo de nascimento e criação de uma obra de arquitectura.
Ao arrepio de uma situação insustentável da arquitectura, perante o actual sistema, a tarefa do arquitecto surge a maior parte das vezes hercúlea. Num país onde 90% dos projectos não são assinados por arquitectos, onde a construção é caótica e o planeamento urbanístico praticamente inexistente, onde os “projectos” dos “habilidosos” surgem com a capa de técnicos pouco escrupulosos e não passam de fotocópias adaptadas, vendidos a preços irrisórios, é verdadeiramente um acontecimento o caso em que o arquitecto consegue chegar ao cliente.
Na província a situação é ainda mais grave e a proporção dos projectos assinados por arquitectos chega a ser anedótica. Os esquemas de “produção em série” das obras encontram-se montados e os dados estão viciados à partida, sob a capa de um “pseudo-desenvolvimento” que apenas serve os interesses dos construtores, especuladores imobiliários e esses mesmos “projectistas”, que se fundem numa mesma mole indissociável.
Daqui nada de bom pode surgir e os resultados estão à vista, a qualidade geral das obras construídas é francamente medíocre, os espaços verdes diminuem assustadoramente, o trânsito revela-se cada vez mais caótico, a poluição ameaça tudo e todos, o património é destruído e atinge estados de degradação incríveis, não havendo respeito algum pela salvaguarda dos exemplos ainda existentes de arquitectura popular, em suma, a qualidade de vida diminui a olhos vistos.
Espero haver nesta mostra uma verdadeira componente didáctica e formativa, algo que contribua para um melhor entendimento do que deverá ser a arte da construção, sobretudo para os mais novos, a quem a geração actual parece, por vezes, apenas estar interessada em legar um mundo cada vez mais “pobre”.
Por esta possibilidade de poder dizer, pelo apoio prestado, pelo empenho demonstrado e incentivo, o meu agradecimento ao Pelouro da Cultura, à Câmara Municipal de Cinfães e a todos os que tornaram possível este evento.
Manuel da Cerveira Pinto
Cinfães, 14 de Outubro de 1996
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